Botões
Era calor mais duro de Novembro, as aulas já estavam próximas do fim. Clara, estava se formando em letras e já começara a dar aulas em colégios da redondeza, ela estava descobrindo quanto um professor sofre em início de carreira, mas esse era seu sonho.
Clara ministrava aulas na escolinha desde o começo daquele ano, era essencial para garantir experiência. O salário era baixíssimo e ela não morava tão perto assim do colégio, para chegar lá teria que pegar duas conduções para ir e duas para voltar, mas ela só recebia duas passagens por dia. Com o salário muito baixo, se fosse tirar o dinheiro do pagamento não lhe sobrava quase nada, a solução era ir e vir todos os dias andando.
Clara ainda parecia ser um pouco orgulhosa, não que seja um defeito, quando as pessoas descobriam que ela iria para o colégio andando ela dizia que era bom,fazia bem a saúde, deixava o corpo em forma, mal sabiam as pessoas que o sol forte do meio dia era perverso.
Em um dia comum, ao sair da aula indo para casa, Clara foi surpreendida por uma aluna que insistia em acompanhá-la até em casa, a professora dizia que não, a menina insistia que sim e insistia mais um pouco que a professora não pôde resistir ao apelo da criança que aparentava ter uns nove anos.
Sob um sol forte as duas caminhavam, a menina perguntava constantemente se faltava muito para chegar e a professora respondia que não. O embaçado do calor sobre as duas que, de certa forma, começavam uma fase diferente na vida.
Enfim, as duas chegaram ao destino almejado, a menina com um ar leve de tristeza junto à surpresa, perguntou se a professora andava aquilo tudo para ir ao colégio todos os dias, a professora com um nó na garganta, um enorme nó, não conseguiu de alguma forma, não sabe ela porque até hoje, responder. A menina começou seu caminho, agora para sua casa, a menina que tinha os olhos que pareciam botões brilhantes cheios de esperança sabia do sacrifício que a educadora fazia todos os dias e nunca a esqueceu.
Hoje, Clara é formada em letras, é professora de boas escolas, dá aulas nos melhores colégios da cidade, graças a dedicação de parte de uma vida conseguiu chegar a uma vida melhor. Clara, que hoje dá aulas a ensino médio, encontrou a menina de anos atrás, era primeiro dia de aula desse ano, a menina reconheceu a professora fisicamente e a professora a reconheceu pelos mesmos olhos grandes que pareciam botões que ainda os tinha.
A gente acaba sonhando muito na vida, alguns sonhos se realizam, alguns não tem o sonho realizado por pura vontade do destino e outros acabam dando uma mãozinha a ambos.
Dennison Vasconcelos.
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